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SIDÔNIO MURALHA
Sidônio Muralha nasceu em Lisboa (Portugal), em 1920 e faleceu em Curitiba em 1982. Dedicou grande parte da sua obra à literatura infantil, tendo recebido vários prêmios nacionais e internacionais. É considerado um dos melhores poetas para crianças em língua portuguesa.
Livros publicados: Beco – Lisboa: 1941 — 2ª. edição: 1949. 3ª. edição: 1950; Passagem de Nível (poemas) – “Novo Cancioneiro”, movimento neo-realista de Coimbra- 1ª. ed. 1942; duas novas edições em 1949; Companheira dos Homens (poemas). 1ª. ed. Lisboa 1950.
MURALHA, Sidônio. Os olhos das crianças. São Paulo: Edição do Autor, 1963. s.p. folhas dobradas, soltas, Papel craft. Formato 23x28 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda
OS OLHOS DAS CRIANÇAS
Atrás dos muros altos com garrafas partidas
bem para trás das grades do silêncio imposto
as crianças de olhos de espanto e de medo transidas
as crianças vendidas alugadas perseguidas
olham os poetas com lágrimas no rosto
Olham os poemas as criança da vielas
mas não pedem cançonetas mas não pedem baladas
o que elas pedem sé que gritemos por elas
as crianças sem livros sem ternura sem janelas
as crianças dos versos que são como pedradas.
O TRONO VAZIO
Mais violento o despertar
quanto mais pesado o sono.
Mônaco: é lá que vão passear
e jogar
os reis sem trono.
É esta a lei. E são assim as leis
Feitas para fotografar
os tronos sem reis.
INVENTÁRIO DE DOMINGO
No domingo pastoso e lento
há um relógio realejo
redondo como um bocejo
que rói o tempo e o pensamento.
Há o bairro puído e humilhado,
há sempre o disco usado na vitrola
e há uma lágrima que rola
entre o presente e o passado.
E há a chuva, que prevê o calendário,
e há o tédio, e há a monotonia
banal na sua geometria
que vai da gaiola ao aquário.
E há o amor, um amor assim-assim,
burguês, dominical e burocrático
que seria alegre se não fosse um folhetim.
E há pessoas ancoradas nos salões
horas e horas com olhar fixo e duro
para que os olhos da crianças do futuro
sejam retangulares como televisões.
O HOMEM DAS ANDAS
Sem bandas nem sarabandas
no vai e vem da avenida
lá anda o homem das andas
para quem desanda a vida.
O homem das andas anda
e vê de cima a avenida
e em baixo tudo desanda
e nele desanda a vida.
Não há pão nem sarabandas
a tarde é fria e comprida
tropeço o homem das andas
para quem desanda a vida.
E de andas em bolandas
cai com raiva na avenida
que engole o homem das andas
para quem desanda a vida.
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Página publicada em outubro de 2021
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